Friday, August 31, 2007

LORENZO MARTIN

Possuidor de inigualável carisma, LOREN-ZO MARTIN tem atraído grandes platéias com sua brilhante atuação em Tristão e Isolda, peça de Vladimir Capella.
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A lenda medieval, mais conhecida a partir da ópera de Richard Wagner (1813-1883), ganhou uma releitura dirigida aos ado-lescentes. Vinte e oito atores encenam a história do triste cavaleiro cuja vida foi marcada por tragédias desde o nasci-mento. Estreou em março e até o momento tem tido lotação máxima em todas as apresentações.
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Mesmo em meio a muitos compromissos, Lorenzo reservou um tempinho pra falar um pouco da sua atuação em Tristão e Isolda, da sua carreira, projetos e claro, de si próprio.
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Como surgiu o Lorenzo?
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Surgiu de uma somatória de fatores, como: sonhos, determinação, a-mor, idealizações e aprendizado – um aprendizado diário, no sentido de melhorar e lapidar – dessa auto-lapidação dessa busca que o ser-humano tem de melhorar.
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Com certeza você já teve outras experiências no teatro!?
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Como ator? Dez anos! risos É! Geralmente eu faço uma média de dois espetáculos profissionais por ano. Já me enfiei em fazer muita coisa. Já me desafiei bastante.
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E na televisão?
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Na televisão, estou agora gravando uma novela chamada Dance Dance Dance, na Rede Bandeirantes. Estréia em outubro – começo de outubro. É uma novela musical.
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E como surgiu essa oportunidade?
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Algumas pessoas passaram no teste, e eu também passei. Fiz minha inscrição pela internete – não tenho “quem indique”, então foi na raça! sorrisos...
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risos “quem indique”? E você vai cantar, dançar...?
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É! Na verdade vou fazer um cantor lá na estória.
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E como surgiu Tristão e Isolda?
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Então! Na época saiu um edital no jornal (não me lembro qual) e eu levei meu curriculum pra seleção. Havia uns 500 (ou 600) candidatos pra seleção, e aí foi apurando, apurando...
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Eu já tinha trabalhado com o diretor do espetáculo, no Gato Ma-lhado... no qual agente ganhou muitos prêmios, e no dia que eu fui assistir ao espetáculo (sem o Tristão) ele me fez o convite. Foi logo depois que o Gustavo Haddad entrou – o Gustavo, na época, também estava fazendo o teste como Tristão. Ele chegou pra mim e per-guntou: “vamos experimentar fazer com você? Topa? Dá pra encarar?” e eu disse “vamos!” risos...
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Eu tinha lido o texto um dia antes e – na verdade, eu já conhecia Tristão e Isolda, mas aí eu fui atrás. Fui atrás da obra (da obra mais fiel, de algumas versões, do filme...). Foi assim! risos...
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Você, com certeza não teve nenhuma dificuldade pra interpretar o Tristão!?
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Ah tive! Na verdade tenho! Emocionalmente tenho até hoje. Não só emocionalmente, mas fisicamente também. Há todo um preparo, uma alquimia, um perfume, e às vezes passa do ponto ou falta um pouquinho. Tenho muitos desafios, principalmente em relação ao amor. Tristão é um personagem que ama acima de tudo, dos princípios, das convicções...
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Já que você tocou nesse assunto, voltando à estória em si, é possível viver sem a paixão?
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Não! Não! Sem nenhum tipo de paixão, não!
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E como você vê a relação amor-paixão-morte?
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Então! Amor-paixão-morte eu vejo como a natureza, uma ciosa natural. A pai-xão, com certeza, tem um começo, uma vida, um final – uma morte. O amor se transforma, se manifesta de várias maneiras, e a morte, bem, a gente está com ela a todo momento. Hoje eu já não sou a pessoa que fui ontem. Ontem eu fui um Lorenzo, hoje sou outro, e amanhã, outro. Acredito nisso, assim, não vejo a morte como um fim, e sim como uma mudança, uma transformação.
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Nietzsche, em uma de suas obras, escreveu que “por amor vale tudo, até mesmo morrer”. Como você vê isso?
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Eu adoro Nietzsche! Tem gente que acha que ele... bem... Vale! Vale a pena! Vale a pena sim. Por amor vale a pena, mas é difícil. Na pele dói pra caramba. A gente fala na teoria, mas na hora que você experimenta, você vê que o amor como um pacote, um universo, onde vem o sofrimento, a insegurança, a paixão, o lado sexual, um monte de coisas que você tem que administrar dia após dia, minuto por minuto, e é totalmente difícil.
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Às vezes a gente bate a cabeça, faz umas bobeiras... sorrisos
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No texto original da obra de Wagner, há uma frase que diz que “o amor pode fazer a vida se prolongar, mas é a paixão que faz a vida andar”. O que você diz disso?
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Que bonito!!! emocionado... Engraçado, eu não sabia disso. Já ouvi, mas nunca soube da tradução. Tenho um amigo que gosta muito de ópera, e sempre tenho um contato grande com a música. Muito bonito isso! Onde você viu?
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Eu tenho um DVD da obra Tannhäuser Overture de Wagner que traz a tradução.
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Você lembra qual é a versão?
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Não. Agora não saberia te dizer, mas posso te falar depois. Posso te emprestar.
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Ah, quero sim. Quero ver. Bom, é isso mesmo. É como... É difícil dar exemplos materiais, falando assim, metaforicamente, mas é como o carro, o combustível e a roda. O pneu seria a paixão, que vai se desgastando, ou não, o pneu é o amor, e o combustível é a paixão, em fim, é uma coisa que a gente precisa reinventar sempre, né!? É uma coisa que eu acho que é natural nossa, e tem outras coisas que acabam vindo juntas, até o próprio ódio! Não acho que o ódio seja algo tão obstante do amor e da paixão, pelo contrário.
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Você é muito sensível! Muito romântico! Seria essa sua sensibilidade que te dá inspiração pra interpretar Tristão?
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Não sei! Sei que sinto muito o personagem. Mas não sei se está sendo tão bom assim, não!!!
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Você sabe que sim! Tem sido muito bom. Muito bom mesmo! Eu diria até que hoje foi a sua melhor atuação. Algumas frases suas foram ditas com mais vida, mais emoção.
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Puxa! Que bom! Bem, tem outras coisa na vida que acontecem e que interferem no nosso trabalho, problemas fora do teatro, e às vezes você não se entrega totalmente. Hoje eu não achei que tivesse sido o melhor dia, mas, que bom que você gostou.
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Como você vê o trabalho do ator hoje em dia? Você acha que ainda há aquele preconceito na sociedade?
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Sim, não tanto, mas tem sim. É muito difícil. Eu não tenho esse problema, mas vejo isso sim. No fundo eu acho que esse preconceito vem muito também do próprio ator. Se você tem preconceito com aquilo que você está fazendo, automaticamente as pessoas também terão. É uma energia que você emite, assim. Eu já tive esse preconceito comigo mesmo. Hoje não. E hoje as pessoas me aceitam muito mais.
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Dentre todos os seus papeis, qual foi o mais difícil?
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O mais difícil é sempre o que eu estou fazendo.
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Tristão é um personagem difícil?
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Acho! Há um ano atrás eu achava que era o Rouxinol, um personagem que eu fazia em O Gato Malhado. Há um ano e meio atrás eu achava que era o Lorenzo que eu fazia no Mercador de Veneza. Caramba! Já trabalhei em outras produções fazendo papeis como Che Quevara e outros. O legal de tudo é você estudar o personagem, criar, dar vida... Difícil é você manter isso tudo, não deixando que fique tudo meio que mecânico, automático. A gente tem que manter a emoção, a vida do personagem. É por isso que cada dia é uma nova apresentação. Elas não se repetem.
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A temporada de Tristão e Isolda foi estendida pra novembro. Há ainda algum outro projeto além de Tristão e Isolda e da novela?
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Ah, tem muita coisa né!? Mas pra esse ano não. Esse ano que quero fazer a novela muito bem feita, porque eu vou representar uma classe GLS, e meu personagem tem toda uma construção que a gente fez, visando o lado humanitário, o lado sensível, desmistificando o lado negativo, e então que quero me dedicar ao máximo nele, nessa coisa ao mesmo tempo masculina e sensível. Há muito preconceito ainda e eu estou investindo muito nisso. Eu me entrego a todos eles (aos personagens! risos.....).
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risos.... Qual é a sua formação?
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Eu fiz Artes Cênicas na Fundação das Artes em 97. Bem, aos 15 e 16 anos eu já fazia teatro amador. Fiz Canto Erudito também na Fundação das Artes em 2002. Fiz Comunicação e Arte na PUC, aliás, tranquei a matrícula pra fazer O Gato Malhado e não voltei ainda. Faço aula de canto semanalmente e dança quatro ou cinco vezes por semana.
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Todos vocês, os rapazes da peça são bem sarados. Você se considera bonito?
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Não! risos.... Verdade! Eu me gosto mas não me admiro.
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Vaidoso?
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Sou um pouco!
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Tem uma religião?
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Acredito nas coisas intuitivas, em Deus e nas pessoas!
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Uma qualidade?
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Determinação.
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Um defeito?
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Sou teimoso.
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Um perfume?
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Cara, sou louco por perfume. No momento, Select da Hugo Boss. Perfume é meu ponto fraco. Perfume e chocolate. risos....
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Que mensagem você gostaria de deixar para as pessoas que te admiram?
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risos... Ah caramba! ...pensando... Que possa representar pra essas pessoas que me admiram um consciente coletivo, de que vou con-tinuar fazendo meu trabalho e transmitindo ciosas positivas, como amor, paixão, esperança...
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Defina pra mim o Lorenzo:
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Não sei! Uma constante mutação. Cara, se eu soubesse eu juro por Deus que eu falaria pra você. Eu também não sei, e estou nesse processo de... risos... eu sei o que gosto, o que eu quero e o que eu não quero pra mim.
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O que achou das perguntas?
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Muito inteligentes. Eu espero que sirvam pra que as pessoas cresçam mais através das respostas, tanto pessoas em geral como atores, em fim... Eu sempre tive admiração por muitas pessoas e sempre cresci muito com elas. A gente cresce muito por exemplos.
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Posso ver as fotos que você tirou? Gosto de ver.
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Quer ver?
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Ham ham! Ficaram boas.
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Lorenzo, muito obrigado por ter concedido essa entrevista, por ter me recebido, gasto seu tempo. Muito obrigado mesmo.
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Eu é que agradeço. Foi muito bom. Me descontraí bastante.
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Beijo no coração.


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5 comments:

Anonymous said...

Assisti a peça umas cinco vezes e ainda quero ver mais. Lorenzo e todos od demais integrantes estão fantásticos. Parabéns pela entrevista. Gosto ainda mais de tudo, principalmente do Lorenzo.

Anonymous said...

Lorenzo, vc é maravilhoso.

Anonymous said...

Caraca velho, tenho que admitir: voce é bom pacas. Me emocionei com a peça. E cara, não seja como a maioria dos atores que esquecem o lado humano e só pensam na fama. Continue sendo esse ser humano cheio de sensibilidade que é. Parabéns. Te admiro.

Anonymous said...

Nossa, ficou muito boa a entrevista com o Lorenzo. Parabéns aos dois (vc e ele) Beijos.

amo vi e grandão said...

parabens ficou otima e com o lorenzo melhor ainda...